O PT costumava ser o partido “das bases”. E, por extensão, o partido das prévias. Em 88, Plinio de Arruda Sampaio (hoje no PSOL) tinha apoio das principais lideranças petistas, mas foi Erundina (com apoio das “bases”) quem ganhou a prévia pra saber quem seria o candidato do partido à Prefeitura de São Paulo. Ao longo das últimas décadas, disputas duras (feitas de forma aberta) no PT também aconteceram no Rio Grande do Sul, Minas, Rio de Janeiro…
O PSDB, ao contrário, tem a tradição dos acertos “por cima”. Quem não se lembra da cena em 2006: 3 ou 4 caciques tucanos reunidos em volta de uma garrafa de vinho, num restaurante de São Paulo, pra saber quem seria o candidato a presidente.
Pois bem. Na eleição para a Prefeitura de São Paulo, que ocorre em 2012, os papéis se inverteram. O PT “matou” as prévias. Haddad é o candidato de Lula. Portanto, é também o candidato “natural” do PT. O PSDB, em crise e dividido, apela para as prévias: seria apenas jogo de cena dos tucanos?
Parece que não. Interessante acompanhar esse processo interno. Há quatro pré-candidatos: Ricardo Tripoli, Andrea Matarazzo, Bruno Covas e José Anibal. Nessa segunda-feira, acontece um debate entre eles – no Teatro da “Folha” (diário oficial tucano?). É a largada da disputa. No dia 4 de março, 22 mil filiados estão aptos a votar nas prévias. Estima-se que, ao menos, 15 mil compareçam. Não é muita gente. Mas é uma tentativa do PSDB de “voltar às bases”.
Detalhe: muita gente no PSDB acha que o melhor nome para enfrentar o PT seria o de Serra. Mas ele está em dúvida. Quer esticar a corda até março ou abril, para avaliar melhor o quadro. Uma derrota para a Prefeitura faria Serra encerrar a carreira. Uma vitória o deixaria preso ao cargo, sem chance de abandonar o mandato pela metade (como já fez em 2006), para concorrer à Presidência em 2014.
Conversei com uma fonte que conhece bem os bastidores da disputa tucana. Ela definiu os 4 pré-candidatos assim: Ricardo Tripolli é o “outsider”, entrou na prévia pra “ganhar cacife” e negociar cargos mais adiante (quem sabe uma vaga no Tribunal de Contas); Andrea Matarazzo é o nome mais ligado a Serra, não tem grande apelo popular nem entre as bases tucanas (o jeito de “mauricinho” não ajuda), e se ganhar a prévia cumpriria apenas o papel de “guardar a vaga” até o último momento para o amigo Serra; Bruno Covas é (ou era) o preferido de Alckmin, mas se queimou em recentes declarações sobre o “escândalo das emendas” na Assembléia Legislativa” paulista; José Aníbal é o mais experiente, e o que tem mais apoios costurados nos diretórios tucanos.
Aníbal e Bruno (que é neto de Mario Covas e traria a marca da “novidade” e da “juventude” – numa eleição em que os adversários seriam também os jovens Haddad e Chalita, pelo PMDB) seriam os favoritos na prévia, hoje. Se Alckmin entrar pra valer na disputa ao lado de Bruno, pode fazer do deputado estadual o candidato do PSDB. Do contrário, é mais provável que José Anibal seja o escolhido (com um currículo alentado, e histórico de militância na esquerda, Aníbal foi exilado durante a ditadura; na volta ao Brasil, ajudou a fundar o PT antes de seguir para o PMDB e depois PSDB; cinco vezes deputado federal, foi líder tucano na Câmara; é secretário estadual de Energia e conhece bem a máquina de governo).
Importante: Aníbal não se dá bem com Serra. Quando se candidatou à liderança do PSDB na Câmara, Serra apoiou Jutahy (deputado federal pela Bahia). Aníbal teve apoio de Aécio e ficou com a vaga. Ele e Serra estão longe de ser amigos.
Concluída a prévia em março, o PSDB terá um mês pra fazer a “Convenção” que oficializará a candidatura. Nesse intervalo, entre a prévia e a Convenção, Serra poderia se decidir pela candidatura. Aí, os tucanos teriam a dura tarefa de “convencer” o vencedor da prévia a retirar a candidatura em prol de Serra. Nesse caso, o PSDB voltaria a ser o mesmo de sempre.
Acontece que José Anibal já mandou avisar: se ganhar no voto dos filiados, ninguém vai tirar dele a candidatura. Serra ficaria numa situação complicada. Haveria uma conflagração no partido (outra) se Serra tentasse se impor candidato depois da escolha de Aníbal (ou mesmo de Bruno Covas). Se Andrea Matarazzo ganhar a prévia (o que é hoje pouco provável), aí tudo ficaria tranquilo para Serra. Esse é o quadro entre os tucanos.
E o PSD de Kassab? Ficou bem enfraquecido com as denúncias contra a “Controlar”. Terá sido coincidência a denúncia surgir no momento em que se armam os palanque pra 2012? Para Alckmin, foi ótimo o enfraquecimento de Kassab… No quadro atual, o PSD parece não ter muita escolha: indicaria o vice para um candidato tucano (Anibal, Bruno Covas; ou Serra).
O jogo do lado do PT é mais simples: Haddad é o candidato. E ponto. Terá ele o apoio entusiasmado das bases petistas? O cancelamento das prévias no PT não poderia provocar desmobilização? A indicação de que ele é o candidato ungido por Lula e Dilma talvez baste para levá-lo ao segundo turno. Mas, aí, a vitória dependerá da performance individual do atual ministro.
Chalita (PMDB), se não for ao segundo turno, pode ser decisivo na disputa final. E tenderia a apoiar o PT – até porque Michel Temer (vice de Dilma) é o padrinho da candidatura dele.
Haddad terá apoio dos tradicionais aliados petistas das legendas de esquerda? PCdoB e PDT estão um pouco arredios (ainda mais depois da fritura de seus ministros…) Fala-se até que o PDT de Paulinho da Força poderia fechar com os tucanos já no primeiro turno, se o candidato do PSDB for Jose Anibal.
O quadro é nebuloso. E o jogo será cheio de nuances, especialmente entre os tucanos. Por isso, vale a pena acompanhar de perto o desenrolar das prévias no PSDB.
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