Há um sentimento geral de que com este 4º Congresso inaugura uma nova fase do PT. Na sua avaliação, isso tem alguma relação com o fim do governo Lula?
Depois de oito anos de governo Lula e com a terceira vitória consecutiva em eleições presidenciais, o PT precisava expor mais o seu projeto estratégico porque tem um projeto de transformação da sociedade brasileira e não apenas de ganhar eleições e governar o país. O 4º Congresso mostrou isso, ao tomar decisões que antecipam realidades que o Brasil já deveria estar vivendo.
A primeira delas é imprimir na prática partidária a igualdade de gênero. A paridade de gênero na composição das direções, delegações, comissões, aprovada, guarda coerência com uma de nossas bandeiras que é construir no Brasil a igualdade de gênero, acabar com o preconceito que ainda pesa contra as mulheres. Esse é o primeiro recado do PT à sociedade.
A segunda diz respeito à renovação. Queremos renovar nosso partido e para isso decidimos que nossas direções tenham pelo menos 20% de jovens. A ideia de renovação se expressou também na decisão de limitar o número de mandatos parlamentares. Junto com essas resoluções muito importantes na relação do PT com a sociedade há também a decisão de fazer uma grande campanha nacional de filiação. O PT hoje tem 32% da simpatia da população, tem a maior votação, governa o país pela terceira vez, mas tem apenas 1,5 milhão de filiados. Queremos ampliar esse número e transformar a simpatia manifesta nas pesquisas e que se realiza nas eleições em participação na vida orgânica partidária. Queremos que essas pessoas ajudem a formular nossas políticas e a decidir em conjunto.
O 4º Congresso também aprovou uma resolução política abrangente, resgata o governo Lula, apoia o governo da presidenta Dilma, mas acima de tudo reafirma bandeiras partidárias e lutas dos movimentos sociais. Como foi o processo de elaboração e o que você destacaria desse documento?
Inicialmente era somente debater mudanças no estatuto do partido, mas decidimos que o congresso também teria esse marco: fazer um balanço do governo Lula, uma avaliação dos oito primeiros meses de governo Dilma e criar uma agenda própria para o partido. Para isso, nós tivemos um processo que envolveu todas as tendências do partido e contou com a colaboração de um grupo de conjuntura da Fundação Perseu Abramo. O fato de ter sido feito a várias mãos, possibilitou que fosse apresentado como documento-base da Executiva Nacional, o que não era muito comum nos últimos tempos.
Além de fazer um balanço positivo do governo Lula e dos oito primeiros meses do governo Dilma, a resolução reaviva o compromisso do PT de ter uma agenda comum com os movimentos sociais, a CUT, o MST, resgata bandeiras nossas históricas, como o internacionalismo – principalmente em relação aos países da América Latina –, apoia a luta pela conclusão da reforma agrária no país, a redução da jornada de 40 horas sem redução de salários, a votação imediata da Comissão da Verdade. Também se dispõe a fazer uma campanha pela redemocratização dos meios de comunicação, uma bandeira agitada pelo PT desde sua fundação, que teve em Perseu Abramo um de seus defensores históricos, e que nada tem a ver com censura, controle, interferência no conteúdo. Ao contrário, quer mais liberdade de expressão, mais versões sobre um único fato e que a sociedade tenha acesso amplo a esses meios, não apenas para ser informada mas também para informar. Por isso, nosso apoio ao marco civil da internet, diverso do AI-5 digital defendido pelo senador Azeredo.
Enfim, o 4º Congresso põe o PT na agenda da sociedade e convoca a militância a participar ativamente de suas instâncias, traçar políticas e influir nas decisões coletivas.
FONTE: www.teoriaedebate.org.br
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