sábado, 8 de outubro de 2011

Uma nova política para uma nova geração

publicado em 07/10/2011


Por Gabriel Medina


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As novas formas de manifestação e mobilização ocorrem porque os jovens já não se vêem representados em instâncias políticas excessivamente institucionalizadas e burocratizadas, por isso buscam a participação direta em movimentos políticos mais abertos e arejados. Não se trata de recusar a política, mas de afrontá-la para que ela se transforme.

“Se não nos deixarem sonhar, não os deixaremos dormir”
Faixa nas Manifestações da Espanha
“Chega de realizações, queremos idéias”
Pixação nas Manifestações do Chile
Na contramão daqueles que anunciaram o fim da história e a extinção das ideologias, os acontecimentos recentes têm posto em xeque o neoliberalismo financeiro e o imperialismo norte-americano. A crise atual, de forma direta ou indireta, tem patrocinado a ocupação das ruas de todo o mundo, como deixam evidente a primavera árabe, o verão europeu, as manifestações da juventude chilena e o recente movimento Ocupando Wall Street.
As motivações para essas manifestações são as mais diversas, vão desde protestos por liberdades políticas em regimes ditatoriais até reivindicações por ampliação de direitos em regimes democráticos, passando por manifestações contra os lucros e ganhos exorbitantes das grandes corporações e bancos. Apesar dessa variedade de motivos há pelos menos dois pontos em comum entre essas insurgências: a presença central da juventude e utilização constante de canais virtuais.
Nos últimos anos, uma série de análises – a direita e a esquerda – não cansaram de apontar uma suposta alienação dos jovens. É bem verdade que a juventude da passagem do século XX ao XXI não empunhou ideais revolucionários, utópicos e socialistas como aquela geração dos anos 1950 aos 1970. No entanto, isso não significa que essa nova geração seja completamente despolitizada ou que não tenha desejos de mudança, a questão é que ela manifesta seus anseios a partir de uma gramática política diferente: os jovens desse início de século XXI acreditam na política, mas não crêem em partidos; reconhecem a importância da coletividade, mas almejam crescer individualmente; buscam transformações, mas são pouco afeitos a rupturas; anseiam por novas idéias, mas são também pragmáticos.
Essas expectativas ambivalentes têm se convertido em novos caminhos de ação política: algumas formas de contestação vieram à tona, animadas pelas novas tecnologias e pelas novas redes de interconexões.
A nova linguagem para se compreender o poder e o novo método de se fazer a política repousam sobre alguns elementos fundamentais: a cultura digital e a participação não-hierárquica e não-segmentada. Daí o gosto por causas que sejam amplas e que contestem a política tradicional: como a defesa do meio-ambiente e da diversidade ou o ataque contra a corrupção e os ganhos exagerados de empresas, tudo sempre regado à defesa da ampliação da liberdade na internet e à ampliação de formas democráticas mais radicais e participativas.
Além disso, as novas formas de manifestação e mobilização da juventude, de alguma maneira, revelam a perda de prestígio das organizações tradicionais como partidos e sindicatos. Entretanto, é preciso ler nas entrelinhas: as movimentações não-partidárias ocorrem não porque há uma descrença na política, e sim porque há um maior interesse na política. As agitações ocorrem porque os jovens já não se vêem representados em instâncias políticas excessivamente institucionalizadas e burocratizadas, por isso buscam a participação direta em movimentos políticos mais abertos e arejados. Não se trata de recusar a política, mas de afrontá-la para que ela se transforme.
Sendo assim, as tradicionais organizações partidárias e os novos movimentos não-partidários não devem ser encarados de forma antagônica, mas de modo complementar. Por um lado, se esses novos movimentos não dialogarem com programas políticos capazes de implementar mudanças reais, eles tendem ao esvaziamento. Por outro lado, se os partidos não interagirem com esses novos ideais de transformação eles tendem à obsolescência.
A ausência de canais entre os movimentos e os partidos serve para a resistência daqueles e para a conservação desses, mas não contribui para a construção coletiva de alternativas. É fundamental que os partidos socialistas e de esquerda se empenhem e colaborem na construção de uma nova política para uma nova geração.

*Gabriel Medina, presidente do Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE) e militante do Movimento Música para Baixar.

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